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8.31.2008

Alan Moore: Biografia e obra

Uma simples busca na Internet vai, sem dúvida, evidenciar que as afirmações elogiosas sobre a contribuição do britânico Alan Moore para o avanço das histórias em quadrinhos são provavelmente incontáveis.

O mesmo acontece na literatura especializada da área, em que ele já foi objeto de várias obras monográficas e ocupa lugar de destaque em muitos dicionários e enciclopédias. Lance Parkin, por exemplo, autor de um livro exclusivamente dedicado a Moore, simplesmente considera, sem temer ser acusado de exagero – o que, aliás, é um fato -, que o autor inglês é “o melhor escritor de quadrinhos que já existiu”.

Já Gary Spencer Millidge, no prefácio que elaborou para o livro Alan Moore: Portrait of an Extraordinary Gentleman, é um pouco mais comedido e se refere ao seu compatriota como “provavelmente o mais respeitado e influente escritor na história dos quadrinhos”. E por aí vai, numa variedade de panegíricos que às vezes não parecem reconhecer qualquer limite lógico.

Polêmicas à parte e evitando colocar Moore num pedestal em que muitos outros grandes produtores de histórias em quadrinhos também mereceriam estar, é fora de questão que o chamado "Bruxo de Northampton" constitui provavelmente um dos mais brilhantes escritores a se dedicarem às histórias em quadrinhos nos últimos 40 anos.

Junto com Frank Miller, Neil Gaiman e alguns outros, ele foi o grande responsável pela gradual mudança de status das histórias em quadrinhos no final do século 20, que aos poucos, num processo ainda longe de seu término, deixaram de ser encaradas como produtos exclusivamente voltados para o público infanto-juvenil e passaram a ser entendidas como também direcionadas para os adultos, iniciando sua comercialização em livrarias, pontos de venda onde antes raramente conseguiam entrar.

Mais que isso, devido a suas características pessoais e profissionais, Alan Moore se tornou um ícone na área, sendo praticamente endeusado por leitores e colegas de profissão. Nesse sentido, não seria exagero dizer que literalmente todos os seus trabalhos são hoje recebidos com quase religiosa admiração, transformando-se em indiscutível sucesso.

1 - O início nos quadrinhos

Alan Moore nasceu em 1953, na cidade de Northampton, Inglaterra, onde reside até hoje. Oriundo de uma família de operários, ele foi expulso do colégio aos 17 anos por uso de drogas; assim, ao mesmo tempo em que teve de dedicar-se fugazmente a várias ocupações menores para garantir sua manutenção, ele aos poucos foi se infiltrando no mundo das histórias em quadrinhos, pelas quais havia tido sempre uma predileção especial.

Inicialmente, teve alguns de seus textos e histórias em quadrinhos publicados em vários fanzines e revistas alternativas de seu país, como Anon, Back Street Bugle e Dark Star. Seus primeiros trabalhos remunerados, no entanto, foram ilustrações de Elvis Costello e Malcolm McLaren para a revista de música NME, publicadas em 1979.

Utilizava, então, o pseudônimo de Curt Vile, que também usou ao assinar a série Roscow Moscow para a revista Sounds, publicada de março de 1979 a julho de 1980; tratava-se de uma tira satírica que misturava música, guerra nuclear, fascismo e invasões alienígenas.

Em 1979, Alan Moore começou a colaborar no jornal da sua cidade, o Northants Post, escrevendo e desenhando semanalmente, com o pseudônimo Jill de Ray, a tira Maxwell The Magic Cat, que durou até 1986; não era nada brilhante, apenas uma espécie de anti-Garfield voltado para o ambiente inglês, fugindo dos temas familiares da relação dono e animal de estimação e tocando em assuntos como greves, protestos e problemas com pulgas.

Até hoje, trata-se da mais longa série em quadrinhos produzida por Alan Moore, posteriormente publicada em 4 volumes pela Acme Press.

2 - Colaboração nas publicações inglesas

Novas alternativas para veiculação de seu trabalho começam a surgir no início da década de 1980, representando, efetivamente, o início de sua inserção entre os grandes nomes dos quadrinhos mundiais. Nessa época, começa a colaborar para a revista 2000 AD, então apenas com três anos de vida, mas já considerada como uma das mais prestigiadas revistas da Nona Arte da Inglaterra.

A principal estrela da publicação era Judge Dredd, originalmente criado por John Wagner e Carlos Ezquerra, que aparecia em todos os números da revista; tratava-se de um futurístico defensor, juiz e executor da lei, que utilizava métodos violentos e justiça sumária para levar a ordem à cidade que defendia.

Os primeiros trabalhos de Moore para essa revista foram "A holiday in Hell", publicado no número especial de ficção científica de junho de 1980, "The killer in the cab", no número 170, e "The dating game", na edição 176, este último representando a primeira colaboração de Moore com Dave Gibbons, um de seus melhores e mais apreciados parceiros. A estes seguiriam dezenas de histórias nos anos seguintes, ilustradas por alguns dos melhores artistas de quadrinhos do país.

O destaque da obra de Moore nessa revista vai para a publicação de "A Balada de Halo Jones" ("The Ballad of Halo Jones"), publicada de 1984 a 1985, em que o roteirista inglês, com o trabalho artístico de seu compatriota Ian Gibson , elabora uma alegoria futurista da Inglaterra de então, com suas levas de desempregados sem perspectiva de colocação no mercado.

Embora limitado pelo número de páginas que lhe era permitido escrever e pela grande variação de artistas a ilustrarem seus roteiros, o trabalho de Alan Moore em 2000AD acabou interessando outras publicações do Reino Unido, como Eagle, Doctor Who Weekly e Scream!, que também lhe abriram suas páginas.

Para Doctor Who, publicada pela Marvel inglesa, ele produziu histórias focalizadas em personagens secundários da série, mas que agradaram bastante aos leitores. Paralelamente, na mesma Marvel, ele começou a colaborar para uma série regular de um super-herói, o Capitão Bretanha (Captain Britain), cujas histórias ele assumiu a partir de julho de 1982, permanecendo à frente do personagem até junho de 1984, sempre acompanhado pelo artista Alan Davis.

Apesar da qualidade do trabalho que apresentava para essas publicações, pode-se dizer que a estrela de Alan Moore só começou mesmo a brilhar de verdade quando ele passou a colaborar para a revista Warrior, na qual ele teve a possibilidade de exercer um nível de liberdade criativa que lhe havia sido negado anteriormente.

No primeiro número dessa publicação, em março de 1982, aparecem dois de seus mais conhecidos trabalhos, Marvelman (posteriormente rebatizado como Miracleman, devido a questões de direito autoral) e V de Vingança.

Ainda que haja muitas diferenças entre elas – a primeira constitui uma re-leitura de um clássico super-herói das histórias em quadrinhos, enquanto a segunda representa ao mesmo tempo uma fábula distópica e um suspense detetivesco -, com essas duas séries o autor inglês demonstrou o que era capaz de fazer quando tinha liberdade e espaço para desenvolver suas narrativas na linguagem gráfica seqüencial. Mesmo com tudo o mais que produziu posteriormente, estas duas ainda figuram entre suas principais obras.

3 - Invadindo a indústria norte-americana de quadrinhos

A partir daí, pode-se dizer que, tanto em termos de espaço para divulgar o seu trabalho como de aclamação por parte do público, o céu foi de Brigadeiro para o autor inglês.

Recebendo a oportunidade de trabalhar para a indústria norte-americana de HQs, Alan Moore iniciou sua atuação com o personagem O Monstro do Pântano (The Swamp Thing), da DC Comics.

Aos poucos revolucionando a criação original de Len Wein e Berni Wrightson e fazendo com que, durante os três anos em que esteve à frente do personagem, sua revista atingisse um grau de popularidade e aceitação que jamais havia alcançado, consubstanciado nos vários prêmios que recebeu nesse período e pelo aumento de vendas, que subiu de 17 para mais de 100 mil exemplares por mês.

Tornando-se um dos mais bem vendidos títulos da editora à época; além disso, durante esse período, ele criou um de seus personagens mais populares, o enigmático John Constantine, que posteriormente seria merecedor de um título próprio na editora, pelo selo Vertigo.

Após a decolagem de seu trabalho em O Monstro do Pântano, a estrela de Alan Moore não parou mais de subir, como evidencia a breve, resumida e com certeza incompleta relação abaixo:

De setembro de 1986 a outubro de 1987 concebeu a série em 12 partes intitulada Watchmen, um verdadeiro divisor de águas na história dos quadrinhos de super-heróis norte-americanos (ainda que ela não possa ser considerada, propriamente, uma história tradicional desse tipo de personagens...). Com arte de Dave Gibbons, Watchmen, de acordo com Lance Parkin, representou para os quadrinhos o mesmo que Cidadão Kane, de Orson Wells, representou para o cinema. Com essa obra, Alan Moore foi definitivamente guindado ao hall mundial dos grandes autores da história dos quadrinhos. Merecidamente, diga-se de passagem.

Em 1988 ele elaborou para a DC Comics uma das melhores histórias do Batman já produzidas, a aclamada e hoje mundialmente conhecida A Piada Mortal ("The Killing Joke"), com arte de Brian Bolland, em que o Coringa aprisiona o Comissário Gordon e aleija Bárbara Gordon, a Batmoça, revolucionando a série do Cruzado de Capa no alvorecer de seu sexagésimo aniversário.

No início dos anos 1990, tendo abandonado as grandes editoras, Moore se enveredou por vários projetos independentes, grande parte deles inconclusos. Foram esses os casos de Brought to Light, em parceria com Bill Sienkiewicz, cuja distribuição foi recusada pela cadeia de livrarias WH Smith, da Inglaterra.

Na série, ele se propunha a expor as ações da CIA (agência de contra-espionagem norte-americana) durante o século 20; Big Numbers, projetado para 12 números também em parceria com Bill Sienkiewicz, mas que só teve dois capítulos publicados; Lost Girls, com desenhos de Melinda Gebbie, cujos primeiros seis números foram publicados na revista Taboo, entre 1991 e 1992, com o sétimo só aparecendo 4 anos depois, em 1996, totalizando apenas 56 páginas das 240 originalmente projetadas.

Já A Small Killing, história publicada na Inglaterra por Victor Gollancz, em 1991, e em 1993 pela Editora Dark Horse, nos Estados Unidos, teve como parceiro artístico o argentino Oscar Zárate, e recebeu em 1994 o prêmio Eisner de melhor graphic novel do ano anterior.

Do Inferno (From Hell) começou a ser elaborado por Moore em 1988, demorando uma década para ser completado. Nesse livro, aclamado como uma de suas melhores obras, ele apresenta na linguagem da Nona Arte uma detalhada investigação sobre os assassinatos de Jack, o Estripador, na Inglaterra vitoriana. Desenhos e arte final são do escocês Eddie Campbell.

A partir de 1999, após anos de colaboração com várias editoras e estúdios menores, como Image Comics e Wildstorm, Moore recebeu de Jim Lee a oferta de publicar suas histórias sob um selo próprio, que o britânico batizou de America’s Best Comics (ABC).

Neste espaço, ele publicou suas principais obras a partir de então. Assim, sob esse selo foram publicados os dois volumes de A Liga Extraordinária (The League of Extraordinary Men), em que um grupo de heróis da literatura é reunido para enfrentar uma ameaça global; Tom Strong, paródia de Superman; Top Ten, uma intrigante viagem da imaginação sobre uma cidade em que todos os habitantes possuem superpoderes; o título Tomorrow Stories, composto por 4 séries diferentes (Greyshirt, Cobweb, The First American e Jack B. Quick); e Promethea, uma série que mescla magia com elementos mitológicos.

Todas essas atividades na produção de histórias em quadrinhos fizeram de Alan Moore uma das figuras mais respeitadas do meio quadrinhístico, algo que o simples elenco de suas atividades não permite uma exata compreensão.

Sua genialidade repousa em cada uma de suas obras, mesmo naquelas realizadas sob a égide da mais pura motivação mercadológica, como o foram as diversas histórias que realizou para personagens consagrados das editoras comerciais norte-americanas; em cada uma delas, um olhar atento pode identificar traços distintivos que evidenciam um aguçado senso critico sobre a linguagem e características da Nona Arte, rendendo homenagem a seus principais ícones ou realizando uma crítica de suas limitações.

Nele, vê-se um autor que, ainda que não elaborando pessoalmente a parte gráfica de suas obras, domina com maestria os elementos da linguagem gráfica seqüencial, propondo narrativas que os utilizam em sua plenitude e que, exatamente por isso, chamam a atenção de leitores e admiradores.

Um dos exemplos desse talento do Bruxo de Northampton pode ser encontrado em uma de suas obras mais conhecidas, V de Vingança, que agora, no início de 2006 – tal como aconteceu com Do Inferno e A Liga Extraordinária -, foi transformada em produção cinematográfica.

V de Vingança - Como mencionado anteriormente, esta série foi criada por Alan Moore em 1982 para a revista Warrior, em preto e branco, tendo sido publicada com bastante sucesso em seus 26 números e sendo interrompida devido ao encerramento da publicação, situação que persistiu até 1988, quando foi publicada em 10 edições nos Estados Unidos, pela DC Comics, desta vez colorizada.

Com desenhos e arte-final de David Lloyd, V de Vingança retomava uma idéia anterior de Moore, submetida sem sucesso à DC Thomson (tradicional editora inglesa de quadrinhos) por não se adequar à linha de publicações dessa editora, especializada em quadrinhos para o público infantil.

De uma maneira geral, a série apresenta uma visão pessimista do futuro da realidade política do Reino Unido de então, transpondo, para o que à época ainda era o distante ano de 1997, as mazelas que atormentavam o país sob o tacão impiedoso da primeira-ministra conservadora Margareth Thatcher, conhecida como A Dama de Ferro.

Em V de Vingança o leitor se depara com uma Inglaterra mergulhada no caos após uma aparente hecatombe nuclear, em que um governo fascista eliminou os direitos civis, dizimou as minorias raciais e sexuais, impôs a censura e reagiu impiedosamente contra qualquer tentativa de questionamento de seus atos arbitrários.

Criando campos de concentração e adotando forças policiais extremamente violentas, e que atualmente não hesita em utilizar a tecnologia para manutenção da ordem social e vigiar intermitentemente a vida de seus cidadãos.

De um desses campos de concentração se evadiu V, o protagonista da história, que irá encetar uma incansável luta contra o governo ditatorial, buscando mostrar a seus conterrâneos que existem possibilidades de mudança. Moldado como um terrorista de ideais anarquistas, ele inicia uma campanha deliberada e bem arquitetada para derrubar os atuais ocupantes do poder.

Buscando na história de seu país uma de suas figuras mais carismáticas, Guy Fawkes, cabeça de uma conspiração que, no início do século 17, planejava destruir o Palácio de Westminster, sede do Parlamento Inglês e símbolo maior da monarquia parlamentarista, Moore aplica no protagonista de sua história uma máscara com as feições desse conspirador, identificando sua narrativa, ipso facto, como uma alegoria, uma reação política a um estado de coisas por ele abominado.

E, da mesma forma, alinha a história com a realidade inglesa, afastando-a do lugar comum das narrativas de super-heróis que então dominavam o mercado editorial em seu país.

Além do sempre ambíguo V, outros personagens de destaque na obra são Evey Hammond, jovem adolescente que o protagonista aprisiona e a quem submete a um processo de aprendizado e doutrinação; Adam James Susan, o líder do partido no poder; Eric Finch, investigador experiente que caça o terrorista por acreditar piamente que este ameaça a ordem estabelecida que lhe cumpre defender, e Dominic, assistente de Finch, que o ajuda a desvendar o mistério das previsões de V.

Juntos, todos eles oferecem uma narrativa instigante centrada na busca de argumentos racionais para justificar as atrocidades cometidas pelos regimes políticos, algo que ainda tem bastante repercussão nos dias de hoje, principalmente quando se pensa na incessante atividade militar norte-americana em território iraquiano.

Além de uma narrativa densa e instigante, misto de história policial, ficção futurista, narrativa de aventuras e descrição de um quase interminável embate ideológico, V de Vingança destaca-se, também, como uma das primeiras obras em que Alan Moore buscou elaborar a mais perfeita relação possível entre ação narrativa e arte gráfica.

Nela, todos os quadrinhos são compostos de forma bastante cuidadosa, tendo em vista a perfeita simetria entre eles.

Da mesma forma, os próprios elementos no interior dos quadrinhos estão dispostos de forma a criar algum tipo de relação com a trama apresentada, desde os livros que aparecem nas prateleiras e cujos títulos são visíveis ao leitor – entre eles figuram Dom Quixote (de Cervantes), O Capital (de Marx), Mein Kampf (de Hitler), Hard Times (de Charles Dickens), entre outros -, os pôsteres nas paredes, as formas utilizadas por V para matar seus inimigos – que claramente fazem lembrar o personagem Dr. Phibes, imortalizado nas telas cinematográficas por Vincent Price -, as diversas referências literárias ao longo da história, etc.

De certa forma, V de Vingança representa uma preparação do autor para Watchmen, em que essa técnica de elaboração da narrativa quadrinhística, com o predomínio da simbologia como fator narrativo, irá atingir seu apogeu.

4 - V de Vingança no Brasil

Esta grande obra de Alan Moore foi publicada pela primeira vez no Brasil pela Editora Globo durante o ano de 1989, período em que essa editora fez uma breve incursão no campo dos chamados quadrinhos adultos; foi publicada no formato de uma minissérie em cinco edições com 64 páginas coloridas, cada número publicado em português trazendo dois números da edição norte-americana, que teve dez fascículos.

Alguns meses após seu lançamento no país, a minissérie recebeu uma versão encadernada, certamente utilizando material que não havia sido comercializado no lançamento (encalhe).

Posteriormente, já no presente século, a obra foi reeditada pela Editora Via Lettera, de São Paulo, para comercialização em livrarias e gibiterias, desta vez em dois volumes em preto e branco. Felizmente, as duas edições fizeram jus à maestria do trabalho, merecendo fazer parte da estante de qualquer colecionador que se respeite.

Agora, aproveitando a estréia de V de Vingança nos cinemas, a Panini Comics traz às bancas pela terceira vez a série. A nova edição será encadernada em edição única, com 304 páginas coloridas e deve chegar às prateleiras ainda este mês.

Leituras recomendadas

ALAN MOORE: Portrait of an extraordinary gentleman. Leigh-on-Sea: Abiogenesis Press, 2003.

ALAN MOORE: Senhor do Caos. [site] Disponível em: www.alanmooresenhordocaos.hpg.ig.com.br. Acessado em 03 abril 2006.

ARGUMENTOS: Alan Moore. Amadora: Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem, 2002. [Catálogo de Exposição]

PARKIN, Lance. The pocket essential Alan Moore. Harpenden, Herts: Pocket Essentials, 2001.

Fonte:
Site: Omelete
http://www.omelete.com.br

Marc Silvestri - Universo Mutante


Jim Lee - Superman


Jim Lee - Batman


8.26.2008

The White Stripes


The White Stripes é uma dupla de blues rock norte-americana, formada no ano de 1997 em Detroit, Michigan, composta por Jack White (compositor, vocalista, guitarrista, pianista) e Meg White (bateria, percussão e vocal de apoio). Eles são conhecidos pelo seu som lo-fi e simplicidade nas composições e arranjos, notoriamente inspirados pelo punk e pelo blues rock, pelo folk rock e pela música country.

No dia 14 de julho de 2007 marcou o aniversário de dez anos da dupla, "comemorado" com um show no Teatro Savoy, no Canadá, cujos ingressos se esgotaram em vinte minutos. A banda ficou conhecida mundialmente depois dos sucessos de "Fell in Love with a Girl", "The Hardest Button To Button", "Seven Nation Army" e "Icky Thump". O White Stripes se formou em Detroit, Michigan, em 1997.

A dupla recebeu mais atenção após a saída repentina de Jack White, do grupo The Go, onde ele era o principal guitarrista. Durante anos, dizia-se que Jack e Meg White eram irmãos, mas depois foi comprovado de que eles eram um casal divorciado.

Jack descreveu seu primeiro álbum, The White Stripes (1999), como "realmente furioso... o registro mais cru, o mais poderoso, e mais Detroit que já fizemos." Seu segundo álbum, De Stijl, foi batizado assim em homenagem à vanguarda artística holandesa neoplasticista, que eles citaram como fonte da imagem musical deles. A arte desta vanguarda está presente na capa do álbum. Este trabalho também foi gravado em uma fita cassete, na sala de estar de Jack.

A dupla desfrutou de um significante sucesso no ano de 2001, com o lançamento de seu álbum White Blood Cells. O som, fortemente associado ao rock de garagem, atraiu muita atenção dos ingleses e, mais tarde, nos Estados Unidos, tornando o White Stripes uma das bandas mais aclamadas de 2002. Ainda neste ano, a revista Q nomeou o White Stripes como uma das "50 Bandas Para Se Ver Antes de Morrer."

O álbum que sucedeu à White Blood Cells, chamado Elephant, foi lançado em 1º de abril de 2003, sendo bastante aclamado pela crítica e foi o maior sucesso comercial da dupla, atingindo o topo das paradas britânicas e figurando entre os 10 primeiros álbuns nos Estados Unidos.

Ele foi gravado com Liam Watson no Toe Rag Studios, em Londres. Durante a celebração de "50 anos de Rock and Roll", a revista Rolling Stone elegeu Elephant como o 390º melhor álbum de todos os tempos. Em agosto deste mesmo ano, a Rolling Stone ainda elegeu Jack White o 17º melhor guitarrista de todos os tempos, colocando-o entre Johnny Ramone e John Frusciante.

Em dezembro de 2003, a NME elegeu este álbum como o melhor do ano. O primeiro single do álbum, "Seven Nation Army", foi a canção da dupla que mais fez sucesso, e foi seguido de um cover de "I Just Don't Know What To Do With Myself", escrita por Burt Bacharach. O terceiro single do álbum foi "The Hardest Button To Button". Em 8 de fevereiro de 2004, o álbum ganhou o Grammy de Melhor Álbum de Música Alternativa, enquanto "Seven Nation Army" ganhou o Grammy de Melhor Música de Rock.

Lançado em 2004, o filme Under Blackpool Lights foi filmado inteiramente com um filme de 16mm e foi dirigido por Dick Carruthers.

O quinto álbum, Get Behind Me Satan, foi gravado na casa de Jack, em Detroit, e lançado na América do Norte em 7 de junho de 2005, recebendo ótimas críticas. Três singles foram retirados deste álbum, sendo o primeiro "Blue Orchid", uma canção muito popular do grupo, que foi veiculada em diversas rádios. A nova esposa de Jack White aparece neste clipe, que foi seguido do single de "My Doorbell".

O terceiro single, "The Denial Twist", tem um videoclipe dirigido por Michel Gondry que documentou, de acordo com o design tipicamente bizarro da dupla, sua aparição no Late Night with Conan O'Brien. O álbum ganhou, em 2006, o Grammy de Melhor Álbum de Música Alternativa. "My Doorbell" foi indicada para Melhor Performance Pop por Dupla ou Grupo com Vocal.

Em 14 de novembro de 2005 foi lançado no iTunes um cover da dupla Tegan and Sara, "Walking with a Ghost". Mais tarde, a canção foi lançada no EP “Walking with a Ghost", em 7 de dezembro de 2005, contando ainda com outras quatro faixas gravadas ao vivo.

Em 15 de maio de 2006, o projeto paralelo de Jack White, The Raconteurs, lançou seu álbum Broken Boy Soldiers, cujo single "Steady As She Goes" torna-se um hit. Jack entrou em turnê com o grupo pelo resto deste ano. Durante a Copa do Mundo de 2006, "Seven Nation Army" tornou-se um hino, ainda que não-oficial, da seleção italiana, e também foi adotado pelos fãs do Roma, uma das maiores equipes da Itália.

A segunda linha da canção é traduzida como "Um exército de sete nações não vai me deixar para trás", e foi bastante apropriada para a seleção italiana, que teve de enfrentar outras sete nações para conquistar o título (Gana, Estados Unidos, República Tcheca, Austrália, Ucrânia, Alemanha e França).

O White Stripes também apareceu em um episódio dos Simpsons, chamado "Jazzy and the Pussycats", que foi ao ar em 17 de setembro de 2006. Neste episódio, Homer e Marge compram uma bateria para Bart, como um modo construtivo de canalizar sua energia. Em uma cena, - uma sátira do clipe de "The Hardest Button To Button - Bart toca sua bateria em seu quarto, nas escadas, no ônibus da escola e nas salas de sua escola, e em uma esquina, onde sua bateria colide com a de Meg.

Em 12 de outubro de 2006, foi anunciado no site oficial do White Stripes que haveria um álbum de composições orquestrais avant-garde consistido de composições passadas de Jack White chamado Aluminium. A pré-venda do álbum iniciou-se em 6 de novembro de 2006, e a versão LP do álbum foi vendida em apenas um dia. 3,333 CDs e 999 LPs foram disponibilizados, embora o formato download não tenha sido limitado, e vinha acompanhado de um encarte eletrônico.

Em 28 de fevereiro de 2007, a dupla anunciou que eles haviam terminado o trabalho do novo disco, Icky Thump. O álbum, gravado em Nashville, levou três semanas para ser gravado - o mais longo de qualquer álbum do White Stripes. É, também, o único álbum da dupla com uma faixa que tenha o mesmo nome do álbum. Ele foi lançado em 16 de junho na Austrália, 18 de junho na Nova Zelândia, Reino Unido e demais países da Europa e em 19 de junho de 2007 nos Estados Unidos e no resto da Ásia.

O álbum foi previamente tocado, por inteiro, em uma estação de rádio de Chicago, em 30 de Maio. Jack White ligou pessoalmente para a rádio da Espanha, onde eles estavam em turnê, para expressar seu desgosto em relação à este ato. Alguns fãs que ouviam a rádio gravaram o álbum, que foi disponibilizado na internet antes de seu lançamento.

O primeiro single do álbum, "Icky Thump", foi disponibilizado no iTunes dos Estados Unidos e do Canadá em 26 de abril de 2007, atingindo, mais tarde, a 2ª posição na Billboard britânica.

Os White Stripes são famosos por ter apenas dois músicos, Jack White no vocal, piano e guitarra e Meg White na bateria. Jack, o principal escritor, disse que este não foi um problema, e que a banda é centrada em torno do número três. Meg canta também em algumas outras músicas da banda como em: "Cold Cold Night" e "Well It's True That We Love Each Other" (de Elephant), "Passive Manipulation" (de Get Behind Me Satan), "Who's a Big Baby?" (Liberado sobre a Blue Orchid single), e "St. Andrew (this battle is in the air)" (de Icky Thump).

No início, a banda chamou a atenção pela sua preferência por antiquados equipamentos de gravação. Com poucas exceções, Jack White tem demonstrado que vai continuar usando amperes e pedais de 1960.

As guitarras que Jack White usa ao vivo são um 1964 JB Hutto Montgomery Airline, um Harmony Rocket, um 1970 Crestwood Astral II, e um 1950 Kay Hollowbody. Ele também usa um Boss TU-2 tuner pedal. Ele liga esta configuração em um Fender 1970 Twin Reverb e dois 100-Watt Sears Silvertone 6x10 combo amplificadores. White também utiliza uma Digitech whammy pedal, que cria entre outras coisas uma oitava inferior ao que é jogado na guitarra, que ele usa muito especialmente nas canções "Seven Nation Army" e "The Hardest Button para Button."

White também desempenha outros instrumentos, tais como um negro F-Estilo Gibson mandolin, Rhodes bass chaves, e um piano Steinway. Ele está atualmente usando um sintetizador Moog Little Phatty.

Várias gravações foram feitas bastante rápido. Por exemplo, Elephant foi gravado em cerca de duas semanas em Londres Toerag's Studio. Get Behind Me Satan, também foi gravado em apenas duas semanas. Para shows ao vivo, o duo também nunca prepara definir as suas listas para shows, acreditando que planejamento demasiado perto iria arruinar a espontaneidade das suas performances.

Em 25 de abril de 2007, o duo anunciou que iriam embarcar em uma turnê no Canadá em todas as 10 províncias, mais o Yukon, Nunavut e Territórios do Noroeste. Nas palavras de Jack White: "Nunca fiz uma turnê do Canadá. Queremos aproveitar esta excursão e observar a paisagem canadense. A melhor maneira de fazer isso é garantir que vamos realizar shows em todas as províncias e territórios do país, a partir do Yukon até Prince Edward Island. Outro momento especial desta turnê é o show que irá ocorreu em Glace Bay, Nova Scotia no dia 14 de julho, O "Décimo aniversário" da banda.

Vermelho, branco e preto, são as cores da banda, e de acordo com Jack, a mais poderosa combinação de cor de todos os tempos, da Coca-Cola até uma bandeira nazista. Em algumas entrevistas, o grupo afirmou que as cores vermelha e branca referem-se a peppermint candy, um símbolo da inocência infância. Jack também mencionou que as cores são utilizadas em brinquedos para bebês, porque eles são facilmente visíveis para bebês. Além do vermelho, branco e preto que a banda usa, Jack também disse que os chapéus são "muito importantes.". Nas letras da banda, freqüentemente as cores são mencionadas, como em "Black Math", "Red Rain", e "White Moon". Na letra de "Icky Thump" as cores da banda também aparecem: "redhead señorita", "preto rum" e "um olho branco".

Jack tem enfatizado a importância que o número três tem para a banda, citando-o como inspiração não só para os seus uniformes tricolores, mas a sua abordagem descendente para comparar o que ele considera os três elementos da canção: narrativas, melodia e ritmo.

O número três também aparece com freqüência em White Stripes album artwork, e nos textos escritos por Jack, como liner notas ou mensagens escritas no website da banda, são frequentemente assinados com "Jack White III", ou simplesmente "III".

Também existem apenas três sons - bateria, guitarra e vocais - na maioria das suas canções; vezes teclado ou piano é substituído pela guitarra. Jack também só usa três guitarras elétricas para os concertos ao vivo da banda: a vintage 1960's-Airline, um 1950's Kay Hollowbody e um Crestwood Astrall II. Também é notável a admiração de Jack pela do filme, que é igualmente o nome da sua empresa produção. Jack escolheu "Three Quid", como seu apelido durante a banda na 2005 UK tour.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/White_Stripes

8.21.2008

Watchmen


Quando um certo Edward Blake é assassinado por defenestração de seu apartamento em Nova Iorque, o solitário e incansável vigilante Rorschach se põe a investigar o caso. Ele logo descobre que Blake não era um rico qualquer, mas tinha sido ninguém menos que o Comediante, um super-herói cínico e durão que, dentre outras coisas, lutou na bem-sucedida guerra do Vietnã.

Relacionando o caso com uma série de infortúnios que acometeram outros vigilantes em anos passados, Rorschach decide visitar os outros heróis mascarados que conhece – apenas um deles continua na ativa – para alertá-los do que suspeita ser uma sistemática execução de seus colegas de profissão. (Foi uma defenestração que deu início à Guerra dos Trinta Anos - porque não pode ter grandes repercussões de novo?)

“Bem-sucedida guerra do Vietnã”? Não, você não leu errado. Uma das grandes inovações de Watchmen está em levar os super-heróis realmente a sério. Isto significa não achar verossímil um mundo, como o dos quadrinhos tradicionais, no qual eles existam sem grandes conseqüências geopolíticas. Pensem bem: se o Super-Homem realmente existisse na década de 40, a Segunda Guerra Mundial teria durado seis anos? É evidente que não. Sendo imune a balas e bombas, ele logo teria voado até a Alemanha e capturado todos os líderes nazistas; se bobear derrubava a União Soviética de sobremesa, pondo fim à Guerra Fria antes mesmo de ela começar. A verdade é que não podemos conviver razoavelmente com o fato de que existam criaturas super-poderosas sem que isso tenha profundas repercussões internacionais. As armas nucleares mudaram o mundo para sempre; que dizer de super-heróis?

Assim, Watchmen faz um ótimo exercício de imaginação, ao desenhar as implicações da existência de vigilantes mascarados. Inicialmente, surgem na década de 40 alguns desses malucos, que vestem fantasias e pulam de prédio em prédio procurando bandidos em flagrante para espancar. Sim, são malucos – o roteirista Alan Moore indaga sordidamente por que diabos alguém iria arriscar a vida de forma tão bizarra; e logo nos responde explorando – em todos os personagens - alguma frustração ou trauma.

Com o tempo, o fenômeno do vigilantismo vai ficando popular. Surgem mais encapuzados. Um banco cria seu próprio vigilante como golpe publicitário: um dia, a capa dele se enroscou na porta giratória de uma agência e ele, alvo fácil para os bandidos, foi baleado até a morte. (O enredo de morte de super-heróis por motivos fúteis, e de sua sistemática execução por alguma força misteriosa, foi recentemente transcrito, de forma infinitamente mais leve e muito saborosa, na animação Os Incríveis.).

Até que um dia surge um super-herói de verdade. Antes, tínhamos apenas pessoas normais, físico malhado e saúde mental notwithstanding, saindo por aí a desafiar o monopólio do Leviatã. Mas eis que surge, após um acidente num laboratório nuclear, uma criatura azul incrivelmente poderosa, capaz de movimentar objetos sem os tocar, destruir um tanque de guerra sem esforço, ou se transportar a grandes distâncias apenas com a força do pensamento. Rorschach e seus colegas – o Comediante, o Coruja, a Espectral, Ozymandias, dentre outros – estavam ultrapassados. Eis que surge o Dr. Manhattan. Logo é cooptado pelo governo de seu país, e um de seus funcionários põe-se a alardear: “Deus existe, e Ele é americano”.

Jon Osterman, o acadêmico que se transformou no Dr. Manhattan, não parece se importar muito com política. Ou com nada terreno. Ele é capaz de enxergar o futuro, e insiste que o tempo é uma jóia multifacetada que os humanos insistem em enxergar uma face de cada vez. Mas ninguém entende sua visão de mundo. Talvez ninguém possa. Mas se Osterman não se importa com nada, os soviéticos certamente o temem – estima-se que ele possa destruir uma fração significativa do arsenal russo em caso de uma investida all-out. Com esta significativa vantagem em mãos dos EUA, a Guerra Fria não é mais a mesma.

O Dr. Manhattan vai para o Vietnã, o que faz com que a guerra seja ganha em pouco tempo. Watergate nunca acontece. A popularidade de Richard Nixon é tamanha que ele consegue anular a 22ª Emenda, o que lhe permite servir um terceiro e logo depois um quarto mandato. Sim, o mundo de Watchmen é sinistro: é 1985 e Nixon é o presidente dos Estados Unidos. As inovações tecnológicas permitidas por Osterman aceleram um monte de coisas: os carros são a hidrogênio, e aqui e ali vemos um ou outro detalhe que nos indica engenharia genética.

Este é um dos pontos fortes da obra: existe uma enorme quantidade de sugestões escondidas; há tanta história pra ser contada que cada página está repleta de significados, sem que isso acarrete algo desagradável de se olhar. Uma primeira leitura irá apresentar a história sem que se perceba cada detalhe; são necessárias dezenas de releituras para apreender as centenas de elementos para os quais não se chama nenhuma atenção.

A investigação de Rorschach, se não nos mostra as nuanças que o leitor deve descobrir por si mesmo, leva-nos para as situações mais incríveis. Somos apresentados a um milionário e bem-sucedido herói aposentado que é muito mais do que parece; uma frustrada versão de um homem que suspeitosamente lembra o Batman; um estranho relacionamento entre o homem mais poderoso do mundo e sua namorada; e descobrimos que a vida de herói é algo violento e sem nenhum glamour.

Pelos olhos de um jornaleiro, vemos as diferentes tramas se encaixando; e sem que tenhamos nenhuma sensação de desconforto, viajamos por uma história que nos leva por vários lugares: o centro de Nova Iorque, um luxuoso apartamento, a área 51, um bar sujo e perigoso, e até mesmo o Pólo Norte... e o planeta Marte (!).

Eis que durante o que pensamos ser uma simples murder story nos é revelado um mundo muito maior e mais perigoso; e eis que durante a investigação um fato nos arranca da cadeira: o Dr. Manhattan abandona a Terra. E vai morar sozinho. Em Marte.

Com isso, a União Soviética lança uma invasão ao Afeganistão (algo que no mundo real aconteceu em 79; evidentemente, se Jon Osterman realmente existisse, Leonid Brezhnev teria pensado duas vezes). Richard Nixon é levado para a área 51. Somos apresentados a uma sala de guerra à la Dr. Strangelove e num painel são feitas simulações de um ataque nuclear. A tensão se eleva. Lição para os estrategistas: não confiar numa arma que tem
vontade própria.

A sufocante e alucinante seqüência de acontecimentos nos leva, numa montanha-russa cheia de sustos e arranques, a um diabólico esquema para impedir o inverno nuclear e garantir a paz mundial. Ultimately, porém, ele parece falhar, porque o gênio por detrás dele esqueceu de levar em conta algo que somente o Dr. Manhattan tem lucidez para avisá-lo: nada chega ao fim. Um plano para a paz mundial não pode durar, porque logo as coisas acabam mudando. Como já nos diz o bom velhinho, John Mearsheimer, o sistema é anárquico, e os Estados não podem projetar com segurança cenários no médio e longo prazos.

Infinitamente mais rica do que praticamente qualquer obra literária do século XX, o romance em quadrinhos que é Watchmen está sob ameaça de nunca vir ao grande público. Talvez o mundo pós-terça-feira (aquele ataque terrorista de setembro de 2001) não possa admitir o ato horrendo que é cometido para salvar o mundo; talvez o mundo pós-Guerra Fria não consiga mais entender o que era a ameaça do equilíbrio do terror. Uma pena.

Alan Moore nos traz profundas e importantes lições sobre o significado da Guerra Fria, a importância de mitos e heróis, e as possibilidades narrativas dos quadrinhos. Mais do que lições, ele nos instiga a fazer perguntas sobre as repercussões últimas de crenças políticas e o modo como enxergamos o mundo. E a forma como ele entrelaça, bem amarradas, várias histórias a um contexto de política internacional constitui obra-prima tanto em Arte quanto em Política.

8.10.2008

Mulher-Maravilha



A Mulher-Maravilha (Wonder Woman, no original em inglês) é uma personagem do universo de super-heróis da editora DC Comics. Criada por William Moulton Marston, ela é provavelmente a mais conhecida e famosa super-heroína do mundo, fazendo sua estréia nas páginas de All-Star Comics #8 em dezembro de 1941, três anos e meio após a primeira aparição do Superman.

Ela também ostenta o título de ser a primeira super-heroína da DC Comics (e provavelmente de todos os quadrinhos, já que até então as mulheres eram representadas apenas como interesses amorosos ou coadjuvantes dos super-heróis).

Natural de Themyscira, fictícia ilha que serve de lar às amazonas e que é protegida pelas antigas deusas gregas Afrodite, Ártemis, Atena, Gaia e Hera, seu nascimento foi bem incomum: a rainha Hipólita diariamente rezava para que fosse abençoada com uma criança.

Certo dia, as deusas decidiram lhe agraciar com a benção da maternidade, e lhe ordenaram que moldasse a imagem de uma menina em barro; tão logo a rainha o fez, a estátua ganhou vida diante de seus olhos, concedendo então à Hipólita seu maior desejo.

Batizada de Diana em homenagem a uma aviadora norte-americana que caíra anos antes na ilha (Diana Prince), a menina cresceu em beleza e inteligência, recebendo os mais diversos dons das divindades. Independente da versão, pré ou pós “Crise nas Infinitas Terras”, ao se tornar adulta, veio ao mundo do patriarcado trazer uma mensagem de paz e tolerância entre as pessoas, ensinamentos estes pregados pelas amazonas. Enfim, uma verdadeira missão diplomática.

Até há pouco tempo, a Mulher-Maravilha só veio a ter contato com o mundo do patriarcado durante a saga “Lendas”, e só foi integrar a Liga da Justiça da América durante a fase encabeçada por Grant Morrison, quando o autor reuniu todos os grande ícones da DC. Para muitos, essa foi a maior e mais importante formação da Liga da Justiça, e o período em que foram escritas as melhores histórias da equipe até hoje.



Mas após “Crise Infinita”, devido a algumas alterações no continuum espaço-tempo, a Mulher-Maravilha chegou a integrar a formação original da LJA, no lugar da Canário Negro. Ela teria chegado ao mundo do patriarcado antes de “Lendas”, portanto.

Ela também não tinha identidade secreta, tornando-se embaixadora de Themyscira na ONU (que fora reconhecida como uma nação pela organização), tendo como base de operações a própria embaixada themyscirana, em Boston, nos EUA. Porém, também após os eventos de “Crise Infinita”, Themyscira desapareceu da Terra por intervenção das deusas do Olimpo, para proteger as amazonas, e a embaixada foi fechada.

A heroína agora usa uma identidade civil secreta, adotando o nome de Diana Prince, assim como ocorria na continuidade antes de “Crise nas Infinitas Terras”.

Seu uniforme faz alusão à bandeira norte-americana porque também é uma homenagem à aviadora que caíra na ilha, já que entre suas coisas também havia uma bandeira dos EUA, e a partir de seu desenho o uniforme daquela que se tornaria a Mulher-Maravilha foi inspirado.

Suas super-habilidades são a força, velocidade e agilidade sobre-humanas, relativa invulnerabilidade e a capacidade de voar. Ela também ostenta braceletes indestrutíveis, capazes de desviar quaisquer projéteis, uma tiara que pode ser usada como bumerangue e um laço virtualmente inquebrável, que ao prender uma pessoa, faz com que ela inevitavelmente diga a verdade.

Dentre seus inimigos clássicos destacam-se Ares, o deus grego da guerra, Circe, a feiticeira da mitologia grega, a Mulher-Leopardo, Giganta e o Dr. Psicho.



Curiosidades:

* O símbolo no tórax da Mulher-Maravilha ainda hoje é motivo de muita controvérsia entre desenhistas. Ora ele é representado como uma águia com as asas abertas, ora é representado como duas letras “W”, uma sobre a outra, em alusão à palavra “Wonder Woman”;

* Outras duas mulheres já ostentaram o título de Mulher-Maravilha, Ártemis, uma amazona loira que venceu Diana em uma disputa, e Donna Troy, ex-Moça-Maravilha e ex-Tróia;

* Na continuidade “pré-Crise nas Infinitas Terras”, houve um período em que a heroína perdera seus poderes e decidiu então abandonar seu uniforme clássico. Passou a usar então freqüentemente um quimono e a contar com um mestre asiático, no estilo dos seriados de TV dos anos 70;

* O laço da verdade não é por acaso um dos equipamentos da Mulher-Maravilha; William Moulton Marston também foi o inventor do detector de mentiras, aparelho usado para interrogar suspeitos ou testemunhas de crimes;

* O famoso avião invisível, após a reformulação de George Pérez, deixara de existir, apesar de se tornar icônico no desenho dos Superamigos. Ultimamente ele voltou a ser incorporado à cronologia como presente de uma raça alienígena, porém não aparece tanto, afinal agora a heroína é capaz de voar.

Para saber mais:

http://www.dccomics.com/
http://www.wikipedia.org/

8.04.2008

O Labirinto do Fauno


O Labirinto do Fauno (2006) é com certeza um dos melhores filmes do cineasta Guillermo Del Toro. O Cineasta conta-nos uma fábula sombria recheada de metáforas e alegorias.

Além de ser entretenimento puro, o filme também é uma óptima refeição mental para os cinéfilos e amantes da literatura fantástica.

O filme abre com uma pequena narração sobre uma princesa que abandonou seu reino subterrâneo para conhecer a realidade humana e as consequências do seu acto. Depois disso conhecemos Ofélia (Ivana Baquero), uma menina de 10 anos fascinada por livros de contos e fábulas com fadas. Ela está a mudar de casa com a Mãe, Cármen (Ariadne Gil) para o campo, onde vai viver então com o padrasto, Vidal (Sergi Lopez).

Ele é o capitão das forças fascistas do general Franco, que governa a Espanha em favor dos ricos e poderosos com a aprovação da Igreja Católica. Percebemos de imediato que Vidal é um homem extremamente sádico e que maltrata Ofélia.

Aos redor de sua nova casa, a menina encontra um labirinto que leva a uma secreto caminho subterrâneo. Lá ela conhece o Fauno (o mímico Doug Jones), uma criatura metade humana, metade bode, que a convence de que ela é a princesa perdida do reino subterrâneo e que precisa realizar três tarefas para retornar para seu reino. Ao mesmo tempo em que Ofelia embarca nessa viagem repleta de fantasia, Vidal não poupa esforços e sadismo para exterminar os rebeldes que ameaçam o governo.

O mundo fantástico

Realidade e fantasia se completam em um verdadeiro banquete de cenas e personagens inesquecíveis. Visualmente, o filme é soberbo. A cor é extremamente carregada de um sombreado que transforma a narrativa em um livro antigo de fábulas.

Inteligentemente, Del Toro transporta seu argumento para o campo. Cercado de florestas, o público aceita com facilidade que possa existir por ali um universo mítico. Envolvendo este universo estão as duras cercas do mundo real, característica que também marca o trabalho de outros directores fantásticos, como Tim Burton e Terry Gilliam. O único ingrediente diferente no filme de Del Toro são os toques surrealistas herdados do cineasta espanhol Luis Buñuel, outro que utilizou sua obra para criticar os fascistas.

Esse universo onírico e gótico é a espinha dorsal do filme. Del Toro não delimita o que é fantasia ou realidade. Ele aponta caminhos e deixa que o público embarque na viagem de sua preferência. Mesmo na conclusão, Del Toro contrasta os dois mundos.

Del Toro correlaciona seus personagens fabulescos com os de carne e osso. Nas tarefas, Ofelia é obrigada a enfrentar criaturas horripilantes. Por mais aterrorizantes que sejam as aparências dos seres, fica a impressão de que os humanos são os verdadeiros vilões.

Mundos contrastantes

Fica evidente a diferença entre o mundo de Ofelia e o de Vidal. Ela acredita em sonhos e fantasia, sentimentos e características vitais para o desenvolvimento do ser humano. Vidal é um produto de mundo rígido e fascista. Sua ideologia é baseada na violência. Del Toro aproveita para analisar psicologicamente como homens dessa natureza são resultado de uma relação agressiva e abusiva dos seus pais.

Mas o debate não é só social, mas também político. Vidal não consegue ver nos rebeldes uma ameaça. Para ele, é uma questão de tempo para que todos sejam eliminados. Em A Espinha do Diabo (2001), Del Toro já tinha utilizado crianças para apresentar temas políticos como pano de fundo - a mesma guerra civil espanhola. Os dois filmes se completam em significado. E a mensagem de Del Toro não é sobre a perda da inocência, mas sim de como temos que nos abarcar a ela para conseguirmos sobreviver emocionalmente.

O elemento humano por trás dos comentários e mensagens de Del Toro reforçam ainda mais suas idéias. Todo o elenco está excelente. Mas quem chama a atenção é Sergi Lopez. Impossível desviar o olhar da tela quando ele aparece. Ele cria um vilão completamente odiável e se torna o ser mais asqueroso e repugnante, mesmo rodeado pelas criaturas mais estranhas possível.

Del Toro realizou todo seu filme com uma equipe basicamente mexicana, mas sem dispensar a máquina hollywoodiana. Ele, Alejandro Gonzáles Iñárritu e Alfonso Cuarón (também produtor do filme) são exemplos de cineastas que nunca deixaram de imprimir sua marca autoral em suas produções, mesmo com as amarras dos grandes estúdios. Coincidentemente, ou não, todos os três são produtos de um povo que até hoje é tratado com desprezo pelos norte-americanos. O preconceito está longe de acabar, mas o talento e o sucesso dos três é a melhor resposta.

É por tudo isto que acho que a fantasia não deve deixar de fazer parte de nós... podemos sempre ser as princesas dos nossos castelos... e porque não a rainha má de vez em quando. A Imaginação não tem limites, e quando se associa aos meios e ao talento atingem-se obras desta natureza.

É sem dúvida um dos filmes da minha vida!

8.02.2008

WARRIORS: Cult, tosco e bom!


Warriors se passa numa noite de uma Nova Iorque distópica, dividida e dominada por mais de 200 gangues. Cyrus, tido como um profeta do submundo, convoca representantes das maiores gangues para uma reunião e num discurso (talvez o mais sampleado de toda história de música eletrônica: “can you dig it?”, “the future is ours”, “twenty thousand hardcore members”, “we got the streets suckers”, todas já viraram hit em pistas de dança) propõe uma trégua entre as gangues para que juntas elas possam tomar conta da cidade.

Uma das gangues então atira em cyrus, que cai morto, provocando uma confusão só piorada por uma batida da polícia, à espreita até então. Na correria, o assassino de cyrus compra briga com uma gangue desconhecida de Coney Island, os Warriors, dizendo pra quem quisesse ouvir que eram eles que haviam matado o profeta. Daí, todas as gangues da cidade saem em perseguição aos Warriors, se comunicando por meio de uma Dj de rádio que manda mensagens “encriptadas” nas escolhas das músicas.

Com uma fotografia bacana e edição que não faz feio mesmo hoje em dia, Warriors merece o revival. Tem uma importância fundamental no cinema americano da década de 70 (talvez no seu momento mais experimental) e na própria história de Nova Iorque, que na época passava por profundos problemas com guerras de gangues (daí o seu caráter distópico) que acabaram por resultar na sua retirada precoce dos cinemas e a “condenação” à sobrevida como cult - parecido com o destino de laranja mecânica sete anos antes na Inglaterra.

Com o filme original quase fora de catálogo, a Paramount encomendou um Director’s Cut que saiu na Europa e Estados Unidos e de gosto duvidoso. Para explicitar a origem HQ da história, Water Hill resolveu estilizar alguns dos cortes do filme como se fossem quadrinhos de uma Graphic Novel, com direito à “enquanto isso” e “não muito longe dali” que jogam água fria no impacto de certas cenas, como a do confronto entre os Warriors e os Baseball Furies (um dos momentos mais célebres do filme original).

A versão do diretor também inclui um prólogo no qual o próprio diretor narra uma passagem da história grega que se assemelharia à trajetória dos guerreiros. Hum, bacana, seu diretor.

Porém nem tudo está perdido. A imagem do dvd está enxutíssima, é widescreen e o som, um dolby surround 5.1 bem nítido. O documentário, dividido em cinco featurettes que reúnem boa parte dos atores e equipe técnica, é o único extra além das sempre sem graça galerias de stills e trailers.

O que mais se sente falta são das cenas excluídas, já que uma (um começo alternativo que se passava durante o dia) é até mostrada en passant durante o documentário. Perfeito mesmo teria sido se este lançamento incluísse tanto a versão que foi aos cinemas originalmente quanto esta, que até funcionaria bem se fosse apenas mais um extra.